Entrevista com Damaris Tomás - Dia dos Povos Indígenas 19/04
Data de Publicação: 17 de abril de 2025
"Sou Damaris, nutricionista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2024. Sou mulher indígena Kaingang pertencente à marca Kamē (Rátéj), dentro da clânica Kamē e Kairu que forma família Kaingang, mãe do Heitor de 5 anos. Sou natural da aldeia de Pinhalzinho-RS, atualmente reside na aldeia indígena Pór Fi Gã-São Leopoldo/RS."
1- O que te motivou para escolher a Nutrição como profissão?
O motivo da escolha do curso de nutrição se deu através da necessidade de profissionais da área para atender na saúde indígena. E a curiosidade sobre o papel da nutrição no funcionamento do organismo.
2- Como foi sua experiência na universidade sendo uma mulher indígena Kaingang?
A experiência como mulher indígena na universidade, é marcada por desafios únicos, que vão além das dificuldades acadêmicas. O preconceito e a discriminação se manifestam de diversas formas, desde falas ofensivas e olhares curiosos até a invisibilidade. Sendo uma mulher indígena com sotaque diferenciado, eram feitas perguntas de curiosidades dos colegas, que vêm sendo “contadas em livros”.
3- Você sente que há espaço para a valorização dos saberes indígenas dentro da Nutrição?
Sim, existem diversos espaços e iniciativas que valorizam os saberes indígenas, incluindo o conhecimento sobre alimentos típicos. A valorização desses saberes é fundamental para a preservação da cultura e da biodiversidade, além de contribuir para a segurança alimentar e a saúde das comunidades indígenas e da sociedade em geral.
4- Como você gostaria de contribuir para a valorização da alimentação Kaingang através da Nutrição e da Saúde?
Eu como profissional em Nutrição, pretendo contribuir na valorização da culinária kaingang que são alimentos saudáveis, nutritivos e sustentáveis, que podem ser oferecidos nos cardápios escolares kaingang, sendo um espaço voltado para a promoção da alimentação saudável, já que o ambiente escolar é considerado um canal de informações que conecta escola, família e comunidade. Sendo, assim, espaço ideal para promover a promoção de saúde e comportamento alimentar adequado.
Outro ponto em que podemos valorizar nossos alimentos típicos, se dá diante do panorama desafiador da obesidade, é fundamental adotar uma abordagem abrangente para combater a obesidade em comunidades Kaingang, principalmente em crianças. Isso se torna uma questão de extrema importância para a população, exigindo um olhar atento para as comunidades, principalmente as localizadas em centros urbanos. A fácil
acessibilidade e disponibilidade aos comércios pode favorecer a compra de alimentos que não são característicos do seu hábito alimentar, ao invés do consumo dos alimentos típicos.
5- Quais as contribuições das culturas indígenas na alimentação e saúde brasileira? Qual o caminho para o reconhecimento dessas culturas?
A cultura alimentar brasileira engloba a cultura original das populações nativas, sendo um sistema simbólico formado por conjuntos de histórias de diferentes culturas; ou seja, é um conjunto de miscigenações, tais como a africana, a portuguesa, europeia, entre outros. Cada povo possui uma herança cultural riquíssima, contudo, cada Estado brasileiro também possui uma culinária diferenciada, com seus ingredientes típicos.
A alimentação indígena vem contribuindo com a diversidade de alimentos e suas técnicas de preparos diferenciados. Na saúde podemos contribuir com a medicina tradicional baseada nas plantas medicinais.
O caminho para o reconhecimento da cultura, poderá se dar através da valorização e respeito aos direitos indígenas e ação de inclusão de políticas públicas.