Pequenas mudanças no prato, grandes resultados para o coração
Data de Publicação: 29 de setembro de 2025
Crédito da Matéria: Assessoria de Comunicação CRN-2
Fotos: Assessoria de Comunicação CRN-2
Fonte: Milena Borba (CRN-2 6409)
O Dia Mundial do Coração foi criado em 2000 pela Federação Mundial do Coração (World Heart Federation), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Surgiu com o objetivo de conscientizar a população global sobre a importância da prevenção das doenças cardiovasculares, que estão entre as principais causas de morte no mundo.
Conversamos com a nutricionista Milena Borba (CRN-2 6409) sobre alimentação equilibrada, escolhas conscientes e estratégias de prevenção que vão além da dieta, envolvendo rotina, moderação e hábitos saudáveis no dia a dia.
Existe alguma estratégia de planejamento alimentar que pode ajudar na prevenção de doenças cardíacas?
Sim. A alimentação é fundamental na prevenção das doenças cardiovasculares. Dietas como a Mediterrânea e a DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) são aliadas à saúde do coração e amplamente recomendadas pelas principais sociedades de cardiologia do mundo e podem ser adaptadas à nossa realidade, valorizando o padrão alimentar brasileiro com arroz e feijão, frutas, hortaliças, peixes e castanhas.
O planejamento deve considerar cultura alimentar, rotina, acessibilidade e preferências individuais, para que seja sustentável a longo prazo.
O segredo está em escolhas que sejam saudáveis, saborosas e viáveis no dia a dia:
- Aposte em frutas, vegetais, grãos integrais, leguminosas e oleaginosas (como castanhas e nozes).
- Escolha proteínas magras: peixe, frango, ovos e leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico).
- Reduza a ingestão de carnes vermelhas e embutidos (presunto, mortadela, salsicha).
- Diminua as gorduras saturadas (presentes em alimentos de origem animal como carnes em geral, leite, queijos, iogurte, manteiga, banha) e exclua as gorduras trans (presentes em alimentos industrializados).
- Priorize as gorduras insaturadas (encontradas no azeite, e oleaginosas como castanhas, amêndoas).
- Modere o consumo de sal: a recomendação é 5g/dia (ou 1 colher de chá).
- Limite (ou evite) o consumo de álcool.
Como uma alimentação equilibrada pode ajudar a prevenir hipertensão e colesterol alto?
Uma alimentação balanceada é essencial para a prevenção da hipertensão (pressão alta) e do colesterol alto. O grande vilão está associado diretamente aos padrões alimentares inadequados, em especial ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em sódio e gordura saturada e trans, juntamente com a baixa ingestão de alimentos frescos e in natura, como frutas e vegetais.
Ao fazer escolhas alimentares mais saudáveis e equilibradas, reduzimos significativamente as chances de desenvolver doenças cardiovasculares. São pequenas mudanças no prato podem trazer grandes resultados para a saúde do coração.
Quais são os nutrientes mais importantes para manter a saúde cardiovascular?
Os principais nutrientes para um coração saudável estão presentes em uma alimentação variada e equilibrada, com vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas, oleaginosas e proteínas magras. Evitar frituras, gorduras trans, carnes processadas, carboidratos refinados, açúcares adicionados e alto teor de sódio é fundamental. Alguns nutrientes têm papel na proteção cardiovascular:
- Fibras, especialmente as solúveis (aveia, feijões, frutas e hortaliças). Que ajudam a reduzir o colesterol.
- Potássio (frutas, verduras, hortaliças, oleaginosas, leguminosas e laticínios, com baixo teor de gordura) auxilia no controle da pressão arterial.
- Gorduras insaturadas (azeite de oliva, abacate, peixes como sardinha e salmão, castanhas e sementes como linhaça e chia) têm ação antiinflamatória e protetora.
- Antioxidantes (principalmente em frutas e vegetais) combatem o envelhecimento das células e previnem a aterosclerose.
Vale lembrar: os alimentos são a melhor fonte desses nutrientes. A suplementação de vitaminas ou minerais isolados não é indicada para prevenção cardiovascular, a menos que seja recomendação específica por deficiência.
Como a desigualdade de acesso à alimentação impacta a prevenção de doenças cardiovasculares?
A falta de acesso a alimentos saudáveis e a informações nutricionais de qualidade é um fator que aumenta o risco de doenças cardiovasculares. Populações em situação de vulnerabilidade tendem a consumir menos alimentos frescos e mais ultraprocessados, elevando as chances de obesidade, hipertensão, diabetes e dislipidemias. Para enfrentar esse cenário, são necessárias políticas públicas que ampliem o acesso a alimentos saudáveis e fortaleçam programas de prevenção à saúde do coração.
Qual o papel da educação alimentar e nutricional na promoção da saúde cardiovascular?
A Educação Alimentar e Nutricional é essencial para promover escolhas conscientes e sustentáveis, valorizando alimentos frescos e a cultura alimentar brasileira, além de combater a desinformação. Mais do que falar de nutrientes, trata-se de reconhecer a alimentação como prática social, cultural e de saúde. No Brasil, duas iniciativas apoiam esse processo:
- O Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), que recomenda basear a alimentação em alimentos in natura ou minimamente processados, valorizar a culinária caseira e evitar ultraprocessados.
- O Dica BR, programa do Ministério da Saúde, que reforça mensagens práticas e acessíveis, adapta alimentos típicos do Brasil, privilegiando frutas, verduras, legumes, feijão e grãos integrais, e reduzindo ultraprocessados, gorduras saturadas, sódio e colesterol facilitando escolhas saudáveis e protege o coração. A alimentação equilibrada contribui para a manutenção da saúde do coração. O nutricionista é o responsável por orientar escolhas alimentares adequadas à rotina, promovendo benefícios à saúde cardiovascular.
Melina Borba Duarte é nutricionista graduada pela Unisinos. Possui pós-graduação em Nutrição Clínica – Fundamentos Metabólicos e Nutricionais pela Universidade Gama Filho (UGF). É especialista em Nutrição Clínica em Cardiologia pela Fundação Universitária de Cardiologia (FUC). Atualmente é mestranda em Hepatologia pela UFCSPA.
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